sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Arte, Artesanato e Terapia Ocupacional



Em seus textos “Arte e Artesanato na Produção de um Corpo Sonhador” e “Métodos de Terapia Ocupacional ou Jogos de Acontecimentos”, Marcus Vinícius Almeida nos convida a uma reflexão sobre os conceitos estabelecidos em nossa sociedade para a arte e o artesanato; e de como os métodos e modelos da Terapia Ocupacional podem, e devem, seguir um “paradigma estético”.

Ao apresentar-nos suas próprias reflexões sobre as definições de arte e artesanato observa que os mesmos não se constituem aptos a exercerem o seu papel conceitual.


A sociedade ocidental os estabeleceu de uma maneira hierarquizada, onde a arte sobrepuja o artesanato, e consequentemente, os sujeitos envolvidos em tais fazeres são divididos também quanto ao fazer a que se dedicam.


Nessa lógica exclusivista, a arte seria um fazer inédito, fruto da criatividade do “artista”, e o artesanato, uma mera execução de um projeto desenvolvido por outra pessoa. Exemplifica esse modo de pensar os movimentos de Arte Concreta (SP) e a Pop Art (EUA).

No campo da Terapia Ocupacional, o papel conceitual de arte e artesanato também encontram-se em uma forma confusa, sendo que de um modo geral, parece também dar mais valor à arte. Isto pode ser visto no termo cunhado no âmbito acadêmico onde encontramos a especialização em “Arteterapia”. Seria possível uma “Artesanatoterapia”?

Os conceitos, portanto, produzem entendimentos, porém estes, também são produzidos ao nível da afetividade e da perceptividade, e são tão vigorosos quanto aqueles. Assim o artesanato, em terapia ocupacional, deve ser entendido como uma forma de transformação dos corpos, sua caotização e conseqüente reestruturação.

Ainda em relação ao Artesanato, é digno de nota a questão da repetição, que se concebe como uma aprendizagem, o ato da transformação que demanda tempo.
O fazer artesanal é a produção de um novo corpo, através do contato com novas forças: um corpo-artesanal, sendo que a clínica em terapia ocupacional deve passar por esses dois momento para efetivar-se: o corpo-arte e o corpo-artesanal.
Faz necessário o entendimento dessa potência terapêutica que é o fazer a arte e o artesanato, que não se resume à um projeto “mental”, mas também a um projeto “arquitetônico”, uma “micropolítica do corpo, do sujeito”.

Sendo assim, nesse processo do fazer arte-artesanato, os conceitos são o que menos importa, pois o resultado é que é a essência do processo.
Os métodos, e principalmente os modelos, serviram para que a Terapia Ocupacional fosse pensada, e assim engrandecida a utilização de seu utensílio básico de trabalho: a atividade.
Um método, não é apenas uma forma de avaliação e condução de uma prática, ele desvenda caminhos escolhidos implicitamente.

Nesse caminho, vemos que a Terapia Ocupacional utiliza-se de metodologias de campos próximos como, por exemplo, a dança, a arte e os jogos. Porém, para conseguir a sua legitimação enquanto “verdade” é nos modelos e métodos científicos que busca a sua consagração.
Assim, foram sendo sufocados campos como a intuição, a sensibilidade, o lúdico, o estético, que se estabeleceram à margem, "problemas" para que a Terapia Ocupacional obtenha a sua legitimação.
Pela postura científica que lhe foi cobrada, enquanto ciência da área da saúde, a terapia ocupacional estabeleceu o seu “grande método”: a Análise da Atividade, que se estabeleceu como uma forma “positivista”, mas capaz de dar reconhecimento científico à profissão e ser a base de muitas teorias que sustentam esse reconhecimento.

Apesar de muitos desejarem novos conceitos para a Terapia Ocupacional, o autor lembra que muitos destes conceitos foram construídos ao longo do tempo e formam a memória da profissão.
Mas é possível a busca de um método de análise que ajude a pensar em conjunto com outros campos, outros saberes e outros métodos, sem deixar que a atividade perca o seu lugar de destaque.

Almeida nos convida à uma reflexão profunda sobre a verdadeira essência da Terapia Ocupacional enquanto saber “terapêutico”, visto que muitas de suas técnicas e métodos foram sendo construídas em uma base positivista, pela necessidade de reconhecimento da cientificidade da profissão, mas saberes necessitam serem resgatados pelos Terapeutas Ocupacionais, saberes que incluam, além das “verdades científicas” estabelecidas, uma nova forma de se analisar o fazer dos sujeitos, enquanto corpos mutantes que são construídos e desconstruídos ao desenvolver de cada atividade.


Referência:
ALMEIDA, Marcos Vinícius. Corpo e Arte em Terapia Ocupacional. Rio de Janeiro: Enelivros, 2004. Cap.7 e 10.

Um comentário:

  1. Que legal o seu Blog Adri... Eh bom pra ler sobre Terepia Occupacional que acontece no Brasil.

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