sexta-feira, 11 de setembro de 2009

As Bases Filosóficas e Teóricas da Prática da Terapia Ocupacional

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As diversas profissões existentes evoluem com o passar dos anos e cada uma delas tem a sua história. Compreendendo as origens e a evolução da terapia ocupacional, podemos entender a sequência do desenvolvimento dos conceitos que foi acontecendo paralelamente à prática profissional.

A variedade do conhecimento que os primeiros terapeutas ocupacionais trouxeram representou tanto um alento quanto um problema. A herança de conceitos e habilidades da medicina, psicologia, enfermagem, artes e ciências humanas permitiu a eles uma visão holística do ser humano, mas ao mesmo tempo foram sendo construídas críticas à cientificidade da nova profissão.

É possível identificar, nesse emaranhado de descrições teóricas básicas, seis conceitos que se referem aos fundamentos teóricos da terapia ocupacional:

(a) “O grande projeto”, que descreve o que é a terapia ocupacional, sua filosofia, seus princípios, pressupostos, valores e crenças, e a natureza de sua prática;
(b) “Conhecimentos emprestados”, que proporcionam explicações úteis de função e disfunção da base cientifica e justificativa da prática (Ciência emprestada), e fornece ao terapeuta um repertório de habilidades úteis para o tratamento da disfunção ocupacional (Habilidades emprestadas);
(c) “A versão da Terapia Ocupacional”, que é uma síntese dos elementos do conhecimento emprestado com idéias que se desenvolvem dentro da profissão, na experiência prática da Terapia Ocupacional, fornecendo uma base bem definida para a prática e ajudando no raciocínio clínico;
(d) “Terapia Ocupacional pura”, que são modelos de prática desenvolvidos por terapeutas ocupacionais para simplificar, explicar e organizar os conhecimentos relevantes da terapia ocupacional com a sua prática;
(e) “Fazendo funcionar”, que é a aplicação de um modelo ou estrutura de referência que se identifica em relação ao paciente, proporcionando ao terapeuta um repertório de métodos, avaliações e técnicas apropriadas e compatíveis.

Tentando combinar o conhecimento biomédico e psicológico com conceitos retirados das ciências sociais e da arte foi sendo criada uma “inconsistência filosófica”, nas palavras de Rosemary Hagedorn, que começou a preocupar os profissionais. Sendo assim, educadores e teóricos da terapia ocupacional demonstraram a necessidade de escapar do “conhecimento emprestado” e identificar teorias e princípios dentro da prática profissional.

A partir de então as teorias vêm sendo descritas por vários autores que nem sempre se utilizam da mesma linguagem. Palavras como, por exemplo, "paradigma", "modelo", “estruturas de referência” e “abordagem” foram sendo usadas de forma aleatória e com diferentes significados para cada um dos autores.

Ainda não existe um consenso internacional para definir como alguns termos e conceitos devem ser descritos, e Hagedorn nos apresenta em seu texto uma comparação dos mesmos entre diferentes autores, e mencionando a sua “aversão pelo uso impreciso da linguagem no contexto acadêmico”, nos apresenta as suas escolhas:

“Paradigma” são os pressupostos, perspectivas e valores básicos da profissão. É uma visão geral daquilo que interessa aos profissionais, um plano global do que fazem dando coerência à profissão. Um “modelo” orienta o que deve ser feito, simplifica a compreensão das coisas tomando vários elementos diferentes e, mostrando a relação entre eles, os transforma em um todo unificado. Os “quadros de referência” são um sistema de teorias que servem para descrever a aplicação, na prática da terapia ocupacional, das teorias originadas em outras profissões. "Abordagens” são os meios e formas de se colocar a teoria em prática que, segundo Hagedorn, devem possuir conceitos coerentes em seu conjunto; obrigar o profissional a pensar e agir focado em seu trabalho; orientar uma ação apropriada à individualidade do cliente; fornecer ao terapeuta um conjunto correlacionado de avaliação e técnicas de tratamento para cada especificidade; e capacitar o profissional para o julgamento dos sucessos e deficiências na abordagem utilizada.

Segundo esta autora, existem relações e interações complexas entre estes conceitos: elementos de diversas teorias e práticas têm seu lugar no paradigma da terapia ocupacional; os quadros de referência são adaptados para a prática profissional e formam quadros de referência aplicados; o paradigma da terapia ocupacional e os processos de mudanças formam os modelos, que por sua vez usam abordagens que vem de quadros de referencia compatíveis, e ainda, o modelo da Terapia Ocupacional pode produzir a sua própria abordagem.

A apresentação desse percurso filosófico-histórico da prática da terapia ocupacional mostra que há um esforço intelectual por parte daqueles que se dispõem a lutar por um ideal de uma profissão, que culminou nos atuais modelos de práticas baseadas no cliente e em uma visão social e humanística dos conceitos de saúde, incapacidades e cuidado.

Referência:
HAGEDORN, Rosemary. Fundamentos da Prática em Terapia Ocupacional. São Paulo: Dynamis, 1999. Cap.4.

Um comentário:

  1. Olá Adrianna, gostei muito do texto, já q estou precisando estudar sobre isso. Se vc possuir algum texto q explique as estruturas de referência da TO me mande por favor.
    Angela
    email: to_angella@hotmail.com

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