quarta-feira, 3 de março de 2010

A Política Nacional de Assistência Social - PNAS e a Terapia Ocupacional

(Adrianna Nogueira)

A Política Nacional de Assistência Social – PNAS é um projeto inovador, que dá continuidade à mudança no modo de se conceber o cidadão brasileiro indicada pela Constituição Federal (BRASIL, 1988) e pela Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS (BRASIL, 1993). Nesta nova concepção, a assistência social configura-se não mais como “favor”, “caridade” ou “bondade”, mas como um direito do cidadão à proteção social, compondo a chamada Seguridade Social. Na prática, este novo modelo de assistência social possui dois grandes objetivos: suprir uma necessidade imediata e desenvolver no indivíduo sua capacidade para uma maior autonomia (BRASIL, 2004).
            O trabalho de assistência social, pelos princípios contidos na PNAS, se configura de forma socioterritorial, ou seja, é uma política pública onde as intervenções se processam “nas capilaridades dos territórios”, e esta característica exige um reconhecimento da dinâmica do cotidiano da população assistida. Este conhecer/reconhecer significa que se deve

“levar em conta três vertentes de proteção social: as pessoas, as suas circunstâncias e dentre elas seu núcleo de apoio primeiro, isto é, a família. A proteção social exige a capacidade de maior aproximação possível do cotidiano da vida das pessoas, pois é nele que riscos, vulnerabilidades se constituem” (BRASIL, 2004, p.10).

            Esta forma de se conceber a assistência social possui um direcionamento que responsabiliza a situação social coletiva pela situação individual daquele que, no momento, está passando por um processo de privação. É a chamada “visão social de proteção”, que se dispõe a conhecer realmente as vulnerabilidades sociais a que as pessoas estão sujeitas e os recursos que possuem para enfrentar as situações com menos dano pessoal e social. Nesta visão social de proteção devemos ser capazes de entender que as circunstâncias sociais são determinantes para sua proteção e autonomia, o que “exige confrontar a leitura macro social com a leitura micro social” (BRASIL, 2004, p.10).



            Outra visão que nos é apresentada pela PNAS é a necessidade de se analisar a situação não somente pelas carências das pessoas, mas também pelas potencialidades. Esta característica faz com que os profissionais envolvidos no processo priorizem e sejam capazes de promover a autonomia destas pessoas.
            Desta forma, os terapeutas ocupacionais têm muito a contribuir, pois sua formação lhes dá o conhecimento necessário para reconhecer o ser humano como um indivíduo autônomo, com potencial para a mudança, e para o qual o envolvimento em ocupações e atividades significativas é essencial. Sendo que, no contexto da Terapia Ocupacional, “atividades” são uma classe geral de ações humanas que são realizadas com uma finalidade, mas que não assumem importância central na vida da pessoa, e as “ocupações” são vistas geralmente como atividades que têm significados e objetivos únicos na vida do ser humano e são essenciais para o seu sentido de identidade e competência (AOTA, 2008).
          Sendo assim, o envolvimento na ocupação para suporte à participação social é um dos resultados que se pode alcançar com a intervenção terapêutica ocupacional, pois através do envolvimento ativo do ser humano na realização de ocupações e atividades desejadas ou necessárias, em casa ou na comunidade, que ele próprio define como objetivas e significativas, a participação social será um resultado natural (AOTA, 2008).

Referências:

American Occupational Therapy Association (AOTA). The Occupational Therapy Practice Framework: Domain and Process, 2nd Edition (Framework - II). The American Journal of Occupational Therapy, v.62, n.6, nov-dez 2008, p.625-683.

BRASIL. Presidência da República. Lei Orgânica da Assistência Social, n. 8.742, de 7 de dezembro de 1993, publicada no DOU de 8 de dezembro de 1993.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: 1988. Texto constitucional de 5 de outubro de 1988 com as alterações adotadas pelas Emendas Constitucionais de n. 1, de 1992, a 32, de 2001, e pelas Emendas Constitucionais de Revisão de n. 1 a 6, de 1994, 17ª ed. Brasília. 405 p. (Série textos básicos, n. 25).

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Secretaria Nacional de Assistência Social, Conselho Nacional de Assistência Social. Política Nacional de Assistência Social – PNAS. Resolução n.145, de 15 de Outubro de 2004, publicada no DOU de 28 de outubro de 2004.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Sobre o Alzheimer

(Roberto Goldkorn) *


Meu pai está com Alzheimer. Logo ele, que durante toda vida se dizia 'o Infalível'. Logo ele, que um dia, ao tentar me ensinar matemática, disse que as minhas orelhas eram tão grandes que batiam no teto. Logo ele que repetiu, ao longo desses 54 anos de convivência, o nome do músculo do pescoço que aprendeu quando tinha treze anos e que nunca mais esqueceu: esternocleidomastóideo.


O diagnóstico médico ainda não é conclusivo, mas, para mim, basta saber que ele esquece o meu nome, mal anda, toma líquidos de canudinho, não consegue terminar uma frase, nem controla mais suas funções fisiológicas, e tem os famosos delírios paranóicos comuns nas demências tipo Alzheimer.

Aliás, fico até mais tranqüilo diante do 'eu não sei ao certo' dos médicos; prefiro isso ao 'estou absolutamente certo de que...', frase que me dá arrepios.

E o que fazer... para evitarmos essas drogas?

Como?

Lendo muito, escrevendo, buscando a clareza das idéias, criando novos circuitos neurais que venham a substituir os afetados pela idade e pela vida "bandida".

Meu conselho: é para vocês não serem infalíveis como o meu pobre pai; não cheguem ao topo, nunca, pois dali só há um caminho: descer. Inventem novos desafios, façam palavras cruzadas,  forcem a memória, não só com drogas (não nego a sua eficácia, principalmente as nootrópicas), mas correndo atrás dos vazios e lapsos.

Eu não sossego enquanto não lembro do nome de algum velho conhecido, ou de uma localidade onde estive há trinta anos.. Leiam e se empenhem em entender o que está escrito, e aprendam outra língua, mesmo aos sessenta anos.

Coloquem a palavra FELICIDADE no topo da sua lista de prioridades: 7 de cada 10 doentes nunca ligaram para essas 'bobagens' e viveram vidas medíocres e infelizes - muitos nem mesmo tinham consciência disso.

Mantenha-se interessado no mundo, nas pessoas, no futuro. Invente novas receitas, experimente (não gosta de ir para a cozinha? Hum... Preocupante...).

Lute, lute sempre, por uma causa, por um ideal, pela felicidade. Parodiando Maiakovski, que disse 'melhor morrer de vodca do que de tédio', eu digo: melhor morrer lutando o bom combate do que ter a personalidade roubada pelo Alzheimer.

Dicas para escapar do Alzheimer:

Uma descoberta dentro da Neurociência vem revelar que o cérebro mantém a capacidade extraordinária de crescer e mudar o padrão de suas conexões.

Os autores desta descoberta, Lawrence Katz e Manning Rubin (2000), revelam que NEURÓBICA, a 'aeróbica dos neurônios', é uma nova forma de exercício cerebral projetada para manter o cérebro ágil e saudável, criando novos e diferentes padrões de atividades dos neurônios em seu cérebro. Cerca de 80% do nosso dia-a-dia é ocupado por rotinas que, apesar de terem a vantagem de reduzir o esforço intelectual, escondem um efeito perverso; limitam o cérebro.

Para contrariar essa tendência, é necessário praticar exercícios 'cerebrais' que fazem as pessoas pensarem somente no que estão fazendo, concentrando-se na tarefa. O desafio da NEURÓBICA é fazer tudo aquilo que contraria as rotinas, obrigando o cérebro a um trabalho adicional.

Tente fazer um teste:

- use o relógio de pulso no braço direito;
- escove os dentes com a mão contrária da de costume;
- ande pela casa de trás para frente (vi na China o pessoal treinando isso num parque);
- vista-se de olhos fechados;
- estimule o paladar, coma coisas diferentes;
- veja fotos de cabeça para baixo;
- veja as horas num espelho;
- faça um novo caminho para ir ao trabalho.

A proposta é mudar o comportamento rotineiro!
Tente, faça alguma coisa diferente com seu outro lado e estimule o seu cérebro. Vale a pena tentar!
Que tal começar a praticar agora, trocando o mouse de lado? Que tal começar agora enviando este texto para alguém, usando o mouse com a mão esquerda?

FAÇA O TESTE E PASSE ADIANTE PARA SEUS  AMIGOS.
'Critique menos, trabalhe mais. E, não se esqueça nunca de agradecer!'

Sucesso pra você!!!


Roberto Goldkorn é psicólogo e escritor.