terça-feira, 6 de outubro de 2015

A assistência à família no processo de reabilitação e prevenção à dependência química.

(Adriana Nogueira)

Os familiares de uma pessoa que está com problemas relacionados ao uso de substâncias psicoativas é peça fundamental no tratamento desta, visto que representam sua referência de apoio e afeto. A carência desses elementos, muitas vezes, está por detrás dos desentendimentos que ocasionaram na pessoa a permanência nas ruas, o sentimento de solidão e o uso de drogas, caracterizando que a dinâmica familiar pode influenciar indiretamente a ocorrência da dependência química em seus membros (SOUZA; PINHEIRO; s/d).
Assim como a família também pode se configurar em um fator protetor para a ocorrência de problemas relacionados com o uso de substâncias psicoativas, um padrão familiar disfuncional como, por exemplo, o uso de álcool e/ou outras drogas pelos pais, é um fator de risco importante para que adolescentes iniciem o consumo dessas substâncias (MOMBELLI; MARCON; COSTA, 2010).
Tissot (2006), realizou um estudo no qual avaliou emoções expressas por familiares de usuários dependentes de substâncias psicoativas em tratamento, e suas relações com a permanência desses usuários em um programa de tratamento. Foram avaliados os seguintes aspectos emocionais do familiar de maior envolvimento emocional com o paciente: hostilidade, superenvolvimento emocional e calor afetivo. Não foi encontrada associação entre o calor afetivo do familiar e a permanência do paciente no tratamento. A presença do sentimento de hostilidade no familiar foi relacionada ao abandono prematuro do tratamento. Um maior nível de superenvolvimento emocional do familiar foi maior no grupo de pacientes que se manteve até o final do programa de tratamento proposto pela instituição.
Corroborando com esses aspectos, as pesquisadoras Crauss e Abaid (2012) nos apresentam que a família de usuários dependentes de substâncias psicoativas é um dos fatores preponderantes que motivam o tratamento, e também exercem influência na tomada de decisão para a busca por tratamento. Em seus estudos, usuários em tratamento referiram “que estão fazendo o tratamento por causa da família, sendo para recuperá-la ou reconquistar a confiança dos membros da família”.
Essas autoras relatam que a família está relacionada ainda à expectativa do pós-alta e como principal rede de apoio. A família é motivadora para a busca por tratamento no sentido de que o indivíduo não quer perder o contato com familiares por causa dos seus problemas relacionados com o uso de substâncias, e buscam recuperar a família que mencionam terem perdido. Para esses, é importante tratar-se e entrar em contato com sua família para reparação dos sofrimentos que causaram, e nesse sentido, percebe-se uma lacuna nos serviços de saúde quanto à intermediação dessa reaproximação ante a fragilidade desses vínculos rompidos.
O núcleo familiar é o primeiro modelo do indivíduo sobre as relações humanas. Por meio dele são internalizados valores, princípios e normas sociais. Uma estrutura familiar favorável, com uma comunicação eficiente entre seus membros e cooperação mútua na resolução de conflitos, aumenta a probabilidade de um bom prognóstico na recuperação de um usuário dependente de substâncias. Além disso, o suporte social familiar é fundamental para um programa eficaz de prevenção de recaída, pois por esse apoio será facilitado o desenvolvimento social do indivíduo egresso de um longo período de tratamento. Ressalta-se que as intervenções com as famílias devem ser realistas, sem idealizações, e serem capazes de incentivar que cada membro reflita sobre a disfuncionalidade do grupo familiar e sua possível contribuição para o agravo da dependência química nesse grupo (CRAUSS; ABAID, 2012).
Podemos observar que esse tema vem sendo desenvolvido por diversos pesquisadores, cada qual com seu peculiar apontamento, para que se consiga uma maior compreensão do papel que cada membro do grupo familiar de um usuário dependente de substâncias exerce nesse contexto.
Uma valiosa contribuição nos é ofertada por Orth e Moré (2008). O trabalho dessas pesquisadoras contempla diretamente aspectos da estrutura e dinâmica de famílias nas quais uma ou mais pessoas se tornaram usuárias dependentes de substâncias psicoativas, iniciando com a constatação de que nem todas as famílias dessas pessoas podem ser consideradas disfuncionais, pois não estão totalmente desprovidas dos fatores de proteção necessários para o desenvolvimento de seus integrantes. O que acontece é que na família que possui um membro que se torna um usuário dependente de substâncias, ocorre um círculo vicioso no qual a disfuncionalidade e a dependência de substâncias se reforçam mutuamente e se mantém.
Essas autoras apresentam dados encontrados sobre a diferença entre a dinâmica familiar conforme o sexo do usuário dependente. No grupo familiar do usuário masculino,

a figura materna mantém um comportamento apegado, superprotetor, permissivo com o dependente, e este ocupa uma posição favorecida em relação aos outros filhos. As mães dos usuários geralmente os descrevem como bem educados e afirmam que não deram trabalho. Em compensação, os pais são vistos como ausentes, desapegados e fracos e, por sua vez, com uma disciplina rude e incoerente, e as relações estabelecidas são difíceis, com efetivo distanciamento afetivo. Os irmãos dos usuários masculinos mantêm com o pai uma relação mais positiva e próxima (ORTH; MORÉ, 2008, p.295).

Por outro lado, segundo esse estudo, as usuárias do sexo feminino que desenvolveram uma relação de compulsão que evoluiu para a dependência da substância utilizada, “mantêm com a mãe uma relação de rivalidade e as veem como figuras autoritárias e superprotetoras; enquanto que os pais são caracterizados como incapazes, indulgentes, sexualmente agressivos e alcoolistas”.
Os dados revelaram ainda que nessas famílias, qualquer que seja o sexo do usuário dependente, existe uma grande incidência de ausência dos pais, por separação ou morte. Há uma frequência maior para a ausência da figura paterna, e ocorre também a ausência de ambos os pais. Stanton e Todd (1985) apud Orth e Moré (2008) relatam que o início do uso de drogas “parece estar associado a esta perda ou então a de outra pessoa significativa, geralmente devido a mortes repentinas e traumáticas”.
Uma problemática que pode ser encontrada nessas famílias é a questão do como os usuários dependentes costumam estabelecer suas relações, tanto com os membros da família como com as pessoas fora desse núcleo familiar. Existe uma vinculação forte, no qual se observa que “as mães dos dependentes relacionam-se com estes de forma a não haver uma separação entre si, o que torna a relação simbiótica, na qual a mãe se apega ao filho desde a tenra idade e trata-o como se tivesse idade menor do que realmente tem”. A tendência observada é a formação de fortes vínculos também com os amigos, que servem como apoio no momento de conflitos. Nessas famílias é comum a presença de outros comportamentos compulsivos e/ou dependentes além das substâncias psicoativas, como os relacionados à, por exemplo, jogos, comida, trabalho, dentre outros. Nesses comportamentos, a pessoa encontra uma sensação de realização pessoal e satisfação, mesmo que passageira, pois não consegue na família os subsídios necessários para isso, pois seu fracasso existe como parte integrante da dinâmica adoecida dessa família. Um dado relevante que os estudos apresentam é que mesmo com a morte ou com a recuperação definitiva do usuário dependente, a funcionalidade do grupo familiar não é reestabelecida, pois após um período de tempo os conflitos reaparecem, podendo ocorrer que outro membro apresente o comportamento (ORTH; MORÉ, 2008).

Por tudo isso, pode ser observado que o tratamento da dependência química só é possível com a inclusão dos familiares, pois todos os membros desse contexto familiar nuclear do usuário dependente estão adoecidos e contribuindo para a permanência desse intrincado processo, no qual o fenômeno da dependência química e de outros comportamentos compulsivos é um sintoma, e não causa, da disfuncionalidade familiar.

Referências

CRAUSS, R.M.G.; ABAID, J.L.W. A dependência química e o tratamento de desintoxicação hospitalar na fala dos usuários. Revista Contextos Clínicos, São Leopoldo, v. 5, n. 1, p.62-72, jan./jun., 2012.

MOMBELLI, M.A.; MARCON, S.S.; COSTA, J.B. Caracterização das internações psiquiátricas para desintoxicação de adolescentes dependentes químicos. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 63, n. 5, p.735-740, set./out., 2010.

ORTH, A.P.S.; MORÉ, C.L.O. O funcionamento de famílias com membros dependentes de substâncias psicoativas. Revista Psicologia Argumento, v. 26, n. 55, p.293-303, out./dez., 2008.

SOUZA, F.R.; PINHEIRO, S.D. A importância da família na percepção do dependente químico em tratamento em uma comunidade terapêutica do Vale dos Sinos. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Psicologia), Faculdades Integradas de Taquara - FACCAT, Taquara/RS, s/d. Disponível em:
https://psicologia.faccat.br/moodle/pluginfile.php/197/course/section/100/fernanda.pdf

TISSOT, C.L. A influência da família sobre a adesão ao tratamento do dependente químico: um estudo piloto sobre a emoção expressa. Dissertação (Mestrado em Ciências), Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006. Disponível em:
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5142/tde-10102006-173615/

O Terapeuta Ocupacional como profissional de saúde no processo de reabilitação da pessoa com problemas relacionados ao uso de álcool e outras drogas

(Adriana Nogueira)

Governo Federal, por meio de organismos tais como o Ministério da Saúde, da Justiça, do Desenvolvimento Social, dentre outros, aponta que a atenção à pessoa com problemas relacionados ao uso de álcool e outras drogas deve ser composta por serviços e equipamentos diversos, que atendam as distintas necessidades dessas pessoas. Especificamente na área da saúde o governo aponta a importância dos serviços de atenção básica que ofereçam ações específicas para esse público, bem como os consultórios de rua e os equipamentos especializados como, por exemplo, os CAPS-ad, os leitos hospitalares e as unidades de acolhimento (BRASIL, 2012).
Este documento enfatiza que somente as equipes de saúde possuem a competência necessária para encaminhar o paciente para o serviço que melhor atenda suas necessidades naquele momento específico. A avaliação dos profissionais de saúde garantem o encaminhamento do paciente para esses serviços tais como, por exemplo, os CAPS (tratamento ambulatorial ), internação (hospitais, unidades de acolhimento, dentre outros), bem como atendimento em unidades de pronto-atendimento, dependendo da demanda identificada. Essa avaliação da equipe de saúde apresenta ainda a característica muito importante de poder identificar outras demandas do paciente para além da questão do uso de substâncias. Situações de riscos extremos à saúde, obviamente demandam atendimento imediato, e a identificação da necessidade de outros acompanhamentos, como o sócio-assistencial por exemplo, deverá ser avaliado conjuntamente com a equipe deste serviço (BRASIL, 2012).
Durante o atendimento, devido ao nível de intoxicação do paciente, é comum que o mesmo não forneça as informações mínimas para um atendimento eficaz. Essas informações deverão ser obtidas dos acompanhantes ou dos policiais sempre que for possível. O principal objetivo do atendimento é a manutenção das funções vitais, porém um completo exame físico e mental, bem como exames laboratoriais e análises toxicológicas devem ser realizados para avaliação de comorbidades como, por exemplo, ferimentos, infecção pulmonar, insuficiência do funcionamento hepático e alterações neurológicas. Estudos comprovam a presença concomitante de transtornos psiquiátricos dentre os usuários de substâncias psicoativas, a denominada “comorbidade psiquiátrica”, ou seja, a ocorrência conjunta de dois ou mais transtornos mentais com outras condições clínicas gerais. Os tipos de transtornos mais comuns são: demência, delirium, psicose (esquizofrenia), transtorno de humor (bipolar, distimia, depressão, etc), transtornos ansiosos (pânico, fobia, transtorno obsessivo compulsivo), déficit de atenção/hiperatividade e transtornos de personalidade (FERREIRA et al, 2005).

Os profissionais de saúde possuem ainda um importante papel dentro do processo de reabilitação, que é o de realizar ações promotoras de saúde junto às pessoas por eles atendidas. Na I Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde, realizada no Canadá em 1986, foi redigida a denominada “Carta de Ottawa”, na qual se encontra que a promoção de saúde é um processo que capacita a comunidade a adquirir comportamentos que melhorem sua saúde e qualidade de vida e a participar de maneira efetiva para controlar este processo. Este documento indica que para se obter “bem-estar físico, mental e social os indivíduos e grupos devem saber identificar aspirações, satisfazer necessidades e modificar favoravelmente o meio ambiente”, e que “a saúde deve ser vista como um recurso para a vida, e não como objetivo de viver” (BRASIL, 2002).
As ações promotoras de saúde procuram refletir sobre as condições de vida das pessoas, as quais devem tomar suas decisões, tanto individuais quanto coletivas, de maneira que favoreçam a saúde e a qualidade de vida. A promoção de saúde apresenta-se como

uma estratégia de mediação entre as pessoas e seu ambiente, combinando escolhas individuais com responsabilidade social pela saúde. Estas estratégias de promoção da saúde são mais integradas e intersetoriais, bem como supõem uma efetiva participação da população desde sua formulação até sua implementação (BUSS, 2005, p.34-35).

Sendo assim, a promoção da saúde relaciona-se com o cotidiano do indivíduo e ao contexto no qual ele se insere, participa e usufrui o que a vida lhe oferece. Nesse sentido, o profissional de Terapia Ocupacional inserido na equipe de atendimento, possui a responsabilidade de promover a saúde do indivíduo, pois esse campo de atuação está diretamente ligado às atividades cotidianas, as quais definem o estilo e qualidade de vida desta pessoa. Os terapeutas ocupacionais crêem nas qualidades próprias das atividades, necessárias para o bem-estar físico e emocional e, portanto, capaz de promover saúde (HAHN, 1995).
Esta pesquisadora reflete que as atividades que estes profissionais desenvolvem com seus clientes, particularmente as que se enquadram nos conceitos de AVD’s (atividades da vida diária) e AIVD’s (atividades instrumentais da vida diária), devem incluir ações informativas sobre saúde e bem-estar como primeiro objetivo de intervenção. O relacionamento terapeuta-cliente, nestas ações promotoras de saúde e qualidade de vida, se caracteriza então como uma relação muita mais educativa do que terapêutica. Nesse sentido, o terapeuta ocupacional, neste papel de agente educacional promotor de saúde, pode enriquecer sua atuação com as reflexões que Paulo Freire apresenta sobre a arte de ensinar.
Para FREIRE (2002), o ensino é fundamentado pela ética e pelo respeito à dignidade e à autonomia da pessoa a quem se pretende instruir sobre algo. Requer que o educador saiba pensar, no sentido de que duvide de suas próprias certezas, questione suas verdades. Quando ele assim age, existe uma maior facilidade em promover no educando o mesmo espírito. Ensinar requer ainda a aceitação do risco que é aventurar-se em busca do “novo”, rejeitando todas as formas de discriminação que separe as pessoas, pois “ao ser produzido, o conhecimento novo supera outro que foi novo antes e se fez velho e se ‘dispõe’ a ser ultrapassado por outro amanhã” (p.15). Nesse sentido, torna-se imperativo tanto conhecer o que o educando já sabe, bem como estar aberto ao conhecimento que está em construção, pois “não há docência sem discência”, ou seja, ensinar não é algo próprio do educador. Embora existam diferenças peculiares entre educador e educando, eles não são objetos um do outro, pois “quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender” (p.12).
Neste modo de se conceber o processo ensino-aprendizagem, prossegue Freire, o educador, apesar de reconhecer o condicionamento a que os seres humanos estão sujeitos, mais ainda reconhece a possibilidade de interferir na realidade e modificá-la, ou seja, o futuro não é algo imutável. O ser humano, enquanto ser inacabado deve estar consciente deste “inacabamento”, pois a diferença entre o ser condicionado e o ser determinado reside exatamente nesta característica, o primeiro possui a consciência do inacabamento, e isto pode levá-lo a deixar de ver os obstáculos como algo pré-estabelecido, uma fatalidade, e reconhecer a transitoriedade dos mesmos. Para Freire, “é na inconclusão do ser, que se sabe como tal, que se funda a educação como processo permanente” (p.34).
Desta forma, a atuação do terapeuta ocupacional na promoção da saúde, pautada sobre estes princípios apresentados por Paulo Freire, possui a capacidade de estabelecer, junto com o indivíduo ou grupo alvo de sua intervenção, um processo de conscientização de que existem outras possibilidades além da realidade apresentada, pois esta não “é” assim, apenas “está” assim.

Referências:

BRASIL. Casa Civil, Ministério da Saúde, Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome, Ministério da Justiça, Ministério da Educação, Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. Cartilha: Crack, é Possível Vencer. Brasília, 2012.

BUSS, P.M. Uma  introdução ao conceito de Promoção da Saúde. In: Czerina, D.; Freitas, C.M. (org). Promoção da Saúde: conceitos, reflexões, tendências. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2005.

FERREIRA, F.G.K.Y.; LUZ, J.A.; OBRZUT-NETO, L.; SANTOS, K.A. Uma visão multiprofissional humanizada no tratamento da pessoa com dependência química em enfermaria psiquiátrica de um hospital geral no Paraná. Cogitare Enfermagem, v. 10, n. 2, p. 54-62, mai/ago. 2005.

FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 23ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 2002.

HAHN, M.S. Promoção da saúde e terapia ocupacional. Revista do Centro de Estudos de Terapia Ocupacional - CETO, v.1, n.1, p.10-13, São Paulo, 1995. Disponível para download em:

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

A importância da detecção de morbidades psiquiátricas associadas ao uso abusivo de substâncias químicas

(Adriana Nogueira)

Marques e Ribeiro (2008) apresentam que “comorbidade é a ocorrência conjunta de dois ou mais transtornos mentais ou com outras condições clínicas gerais”, sendo que a ocorrência de comorbidades entre pessoas que enfrentam problemas relacionados ao uso de álcool e outras drogas tem sido relatada na literatura científica.
Esses autores refletem ainda que a investigação da ocorrência dessas comorbidades entre essa população configura-se um importante ponto para a adesão ao tratamento, visto que tais pessoas tendem a procurar por tratamento, e ainda, com a evolução do tratamento do transtorno psiquiátrico associado, o tratamento da dependência da substância tende a também obter sucesso.
Fidalgo, Pan Neto e Silveira (2014), discutem que as comorbidades psiquiátricas estão presentes em até 80% dos alcoolistas e em até 70% dos dependentes de substâncias ilícitas. Depressão e transtornos ansiosos são as mais comumente encontradas. Os estudos científicos não são conclusivos para comprovar o potencial que as substâncias entorpecentes apresentam para desencadear quadros psiquiátricos mais graves, como o transtorno bipolar em seus variados espectros e os transtornos psicóticos, que também são encontrados em associação ao uso abusivo e à dependência de substâncias. Outras comorbidades frequentes são os transtornos que se caracterizam pela presença de impulsividade, como certos transtornos de personalidade. Observa-se ainda que a presença de comorbidades influencia diretamente o prognóstico da dependência.
Hess, Almeida e Moraes (2012), corroboram nesse sentido, apresentando que a presença de transtornos psiquiátricos associados ao uso de drogas é alvo de vários estudos nacionais e internacionais. Esses autores relatam que indivíduos com problemas relacionados ao uso de álccol e outras drogas possuem mais chances de desenvolver um transtorno psiquiátrico, quando comparados a indivíduos que não utilizam drogas, sendo a identificação deste outro transtorno relevante tanto para o prognóstico quanto para o tratamento adequado desses indivíduos. Observa-se que dentre as comorbidades psiquiátricas mais comumente encontradas entre essa população estão os transtornos depressivos, os transtornos ansiosos e os transtornos de personalidade. Dados estatísticos internacionais mostraram ainda que cerca de metade dos indivíduos dependentes de álcool e outras substâncias possuíam um diagnóstico psiquiátrico adicional, sendo 26% Transtornos do Humor, 28% Transtorno de Ansiedade e 18% Transtornos de Personalidade Anti-Social, dentre outras psicopatologias.
Tais autores apresentam ainda que quanto às comorbidades psiquiátricas em pessoas com problemas relacionados ao uso de álcool e outras drogas, existem evidências de que estas podem ser associadas a aumento da agressividade, de suicídio, e de recaídas ao comportamento de uso da substância após um tempo de abstinência. Estudos demonstram ainda correlações positivas entre o comportamento suicida e traços impulsivos e/ou impulsivo-agressivos, sendo que o suicídio tem sido relacionado à presença de Transtorno da Personalidade Limítrofe e Anti-Social. Um estudo realizado com 34.241 indivíduos no qual 16% reportaram ideação suicida, apontou como fatores de vulnerabilidade para o risco de suicídio a história prévia de tentativa e/ou de ideação suicida, o consumo de cocaína e, ainda, a dificuldade no controle de comportamentos violentos.
Esses estudos mostram que a depressão, incluída nos Transtornos do Humor, é uma das principais comorbidades psiquiátricas associada ao uso de drogas.
A depressão é um transtorno mental comum, caracterizado por humor deprimido, perda de interesse ou prazer, sentimentos de culpa, baixa autoestima, distúrbios do sono e/ou de apetite, desânimo e baixa capacidade de concentração. Os sintomas tendem-se a se tornar crônicos ou recorrentes e causar grave prejuízo à capacidade do indivíduo cumprir com as responsabilidades de seu cotidiano. Em sua pior forma pode levar ao suicídio, o qual está associado à perda mundial de 850.000 vidas anualmente (WHO/OMS, 2009).
Segundo Stewart (2008), a depressão é uma desordem sub-reconhecida e pobremente tratada tanto por especialistas não-psiquiatras quanto pelos clínicos de cuidados primários, sendo que estudos apontam que apenas metade dos pacientes com depressão são identificados em hospitais gerais e unidades de cuidados primários, e menos ainda são adequadamente tratados. Esta autora nos apresenta que entre os principais fatores responsáveis pela baixa identificação da depressão estão: o tempo escasso para as consultas; as comorbidades concorrentes; o estigma da doença: a preferência do clínico em lidar com as condições físicas, e não emocionais, do paciente; a incerteza quanto à eficácia do tratamento e o processo de negação do paciente.
Os transtornos ansiosos, também uma comorbidade associada ao uso de drogas com alto índice de incidência relatado pelos pesquisadores, caracterizam-se pela ansiedade e preocupação excessivas (expectativa apreensiva), ocorrendo na maioria dos dias por pelo menos seis meses, nos diversos eventos ou atividades (tais como desempenho escolar ou profissional). O indivíduo considera difícil controlar a preocupação. A ansiedade e a preocupação estão associadas com três (ou mais) dos seguintes sintomas, presentes na maioria dos dias nos últimos seis meses: (a) inquietação ou sensação de estar com os nervos à flor da pele; (b) fadiga; (c) dificuldade em concentrar-se ou sensações de "branco" na mente; (d) irritabilidade; (e) tensão muscular; (f) perturbação do sono (dificuldades em conciliar ou manter o sono, ou sono insatisfatório e inquieto). A ansiedade, a preocupação ou os sintomas físicos causam sofrimento significativo ou prejuízo no funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo, e a perturbação não se deve aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância ou de uma condição médica geral.
Muitos pesquisadores se dedicam à investigação da comorbidade psiquiátrica junto aos dependentes de álcool e outras drogas. Um estudo nos EUA abrangeu mais de 20.000 pessoas e foi estimada uma prevalência de 13,5% de dependência de álcool e 6,1% de dependência de outras drogas. Esse estudo apontou que apresentavam um segundo diagnóstico psiquiátrico 37% dos dependentes de álcool e 53% dos dependentes de outras drogas, observando-se que os transtornos afetivos entre dependentes dessas substâncias era 4,7 vezes maior em relação ao restante da população. Os estudos mostram ainda que os transtornos depressivos são o diagnóstico mais associado à dependência química (SILVEIRA; JORGE, 1999).
Esses autores realizaram um estudo no Brasil com 50 indivíduos farmacodependentes, que foram  selecionados aleatoriamente entre os pacientes de um serviço de tratamento ambulatorial. As prevalências de transtornos mentais ao longo da vida e no momento da entrevista foram de 77% e 72%, respectivamente. Entre os pacientes, 32% apresentavam-se deprimidos por ocasião da avaliação e 44% preencheram critérios diagnósticos para depressão na vida. Os transtornos depressivos precederam a instalação da farmacodependência em 77,3% dos pacientes. Outros transtornos psiquiátricos apareceram em proporções maiores do que as observadas em estudos envolvendo população geral. Os resultados do estudo foram comparados com estudos similares internacionais, concluindo que a alta correlação entre psicopatologia e farmacodependência enfatiza a importância de estratégias terapêuticas baseadas na identificação de comorbidade psiquiátrica nestes casos e que o diagnóstico dos transtornos psiquiátricos associados ao quadro da dependência química possibilita intervenções direcionadas que promovem a interrupção do comportamento da drogadicção e a diminuição da reincidência ao comportamento após o mesmo ter cessado.
Por tudo isso, fica evidenciada a relação das comorbidades psiquiátricas com o uso nocivo e abusivo de substâncias psicoativas, e que sua identificação concorre positivamente para o tratamento e recuperação das pessoas que enfrentam essa problemática em suas vidas.


Referências

HESS, A.R.B.; ALMEIDA, R.M.; MORAES, A.L. Comorbidades Psiquiátricas em dependentes químicos em abstinência em ambiente protegido. Estudos de Psicologia, Natal, v. 17, n. 1, p.171-178, jan./abril 2012.

FIDALGO, T.M.; PAN NETO, P.M.; SILVEIRA, D.X. Abordagem da dependência químicaDisponível em:
http://www.unasus.unifesp.br/biblioteca_virtual/esf/1/casos_complexos/Vila_Santo_Antonio/Complexo_12_Vila_Abordagem_dependencia.pdf Acesso em 20 jun.2014.

MARQUES, A.C.P.R.; RIBEIRO, M. Abordagem geral do usuário de substância com potencial de abuso. Projeto Diretrizes. São Bernardo do Campo (SP): Associação Brasileira de Psiquiatria, fev. 2008, 18p.

SILVEIRA, D.X.; JORGE, M.R. Co-morbidade psiquiátrica em dependentes de substâncias psicoativas: resultados preliminares. Revista Brasileira de Psiquiatria, São Paulo, v. 21, n. 3, p.145-151, set. 1999.

STEWART, D.E. Battling depression. Canadian Medical Association Journal, v.178, n.8, p.1023-1024, abr., 2008.

WHO - World Health Organization. Depression. Disponível em:
http://www.who.int/mental_health/management/depression/en/Acesso em 20 jun.2014.

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

O trabalho intersetorial e multiprofissional na recuperação e reabilitação da pessoa com problemas relacionados ao uso de álcool e outras drogas

(Adriana Nogueira)

A Política do Ministério da Saúde para Atenção Integral a Usuários de Álcool e Outras Drogas considera, em suas diretrizes, que

a atenção psicossocial a pacientes com dependência e/ou uso prejudicial de álcool e outras drogas deve se basear em uma rede de dispositivos comunitários, integrados ao meio cultural, e articulados à rede assistencial em saúde mental (BRASIL, 2003, p.26).

Nesse sentido, as ações dos profissionais envolvidos na recuperação e reabilitação dessas pessoas, devem ser pautadas, principalmente, em conformidade com os princípios da Reabilitação Psicossocial.
A Organização Mundial da Saúde e a Organização Pan-americana de Saúde apresentam a Reabilitação Psicossocial como

um processo que oferece aos indivíduos que estão debilitados, incapacitados ou deficientes em virtude de transtorno mental, a oportunidade de atingir o seu nível potencial de funcionamento independente na comunidade (OMS/OPAS, 2001, p.62).

Dessa forma, para que esse processo possa acontecer devem ser proporcionadas a essas pessoas as condições necessárias para o desenvolvimento desse potencial.
A Reabilitação Psicossocial é um "processo de reconstrução, um exercício pleno da cidadania, e, também, de plena contratualidade nos três grandes cenários: habitat, rede social, e trabalho com valor social", configurando-se um modelo no qual se considera a complexidade humana sob a ótica desses diferentes fatores mutuamente influenciados (SARACENO, 2001, p.16).
Este feixe de relações que o indivíduo estabelece com os lugares, com os outros, e com a vida material é, portanto, um "patrimônio ao qual se pode ter acesso, e que pode se modificar sob a força de uma intervenção que crie as condições para que o sujeito possa exercitar 'mais' escolhas". Desta forma, a reabilitação é "um conjunto de estratégias orientadas a aumentar as oportunidades de troca de recursos e de afetos", pois o processo (re)habilitador é facilitado pela dinâmica que se estabelece em um espaço de trocas (SARACENO, 2001 apud LUSSI, PEREIRA & PEREIRA JR., 2006, p.453-454).
Sendo assim, fica evidenciado que a recuperação e a reabilitação da pessoa com problemas relacionados ao uso de álcool e outras drogas envolvem e exigem um trabalho intersetorial e multiprofissional.

Refletindo sobre a atenção integral à saúde dessas pessoas, Carvalho et al (2011, p.58) consideram que, diante da característica multicausal da dependência química, as intervenções, além de utilizarem essa abordagem psicossocial, devem procurar atender às necessidades tanto do usuário quanto dos familiares. Tais iniciativas estabelecem as condições necessárias para um bom prognóstico do tratamento, ao constituir um caminho propício para “estabilizar o quadro da dependência, garantir a remissão dos sintomas de abstinência e, evitar a recaída”. Esses autores apresentam ainda que “o tratamento e o plano de reabilitação psicossocial do dependente químico, devem ser desenvolvidos por equipe multiprofissional”.
Peduzzi (2001), apresenta “que o trabalho em equipe multiprofissional consiste uma modalidade de trabalho coletivo que se configura na relação recíproca entre as múltiplas intervenções técnicas e a interação dos agentes de diferentes áreas profissionais”, sendo que a constante comunicação entre esses diferentes atores produzem ações de cooperação que enriquecem o trabalho desenvolvido.
O tratamento e recuperação de pessoas que estabeleceram uma relação de dependência na utilização de determinada substância química envolve a possibilidade das chamadas “recaídas”. Büchele, Marcatti e Rabelo (2004, p.234), indicam que “a ‘recaída’ é considerada um estado de crise, um conjunto de sintomas da doença, que se manifestam pelo abuso de substâncias, após um período de abstinência”. Esses autores refletem que a recaída possui um contexto positivo e facilitador para a recuperação dessas pessoas, caracterizando-se como um fator de confrontação do usuário dependente de substâncias psicoativas, no sentido de que este passa a perceber o caráter crônico da sua doença, e desfaz a sensação ilusória de que um curto período de tempo sem utilizar a droga de sua preferência é sinônimo de sua recuperação. A recaída permite ao indivíduo refletir profundamente sobre seu padrão de dependência e realizar escolhas com mais sentido. Muito mais do que prevenir sua recaída, essa pessoa conquista autonomia frente ao seu processo de recuperação e estabelece um novo posicionamento para sua existência.
Os profissionais que se dispõem a auxiliar essa população nesse processo de recuperação, necessitam estar subsidiados pelo conhecimento da dinâmica do tratamento, para que sua atuação seja eficaz.
Um relato dessa dinâmica é apresentado por Gorski (2014). A partir de seus estudos esse pesquisador caracteriza alguns passos que envolvem a recuperação do usuário dependente de substâncias psicoativas, que ele denomina de Plano de Prevenção de Recaída.
Esses passos consistem em primeiro lugar na “Estabilização” do indivíduo, ou seja, a pessoa deve reconquistar/desenvolver o autocontrole, controlando os seus pensamentos, as emoções, a memória, a capacidade de julgamento e seu comportamento. Esse autocontrole será capaz de proporcionar uma justa “Avaliação” sobre o que ocasionou ou pode ocasionar a recaída. O usuário dependente passará a revisar o seu histórico de uso da substância, passando a uma fase de “Aprendizado”, percebendo que para prevenir a recaída é necessário entendê-la. Quanto mais informações essa pessoa possuir sobre dependência, recuperação e recaída, mais ferramentas terá para manter o autocontrole, realizando a “Identificação dos Sinais de Aviso” que apontam os problemas mais importantes para a manutenção da sobriedade. A “Administração dos Sinais de Aviso” requer planos concretos para prevenção dos sinais de aviso, para aquisição de habilidade para lidar com os problemas a partir do momento que os sinais são identificados para questioná-los e resolvê-los. Um passo importante para manter essa habilidade é o “Inventário” diário dos acontecimentos, avaliando os fatos que foram bem enfrentados e quais os pontos que requerem melhora, e se preparando para um novo dia de manutenção da sobriedade de forma confortável. Outro passo importante é a “Revisão do Programa de Recuperação”, avaliando-o quanto à ajuda que existe para o enfrentamento dos sinais de aviso. Por fim, o “Envolvimento com Outros” é valioso, no sentido de que pessoas significativas (familiares, colegas de trabalho, membros de grupos de autoajuda) podem auxiliar no reconhecimento dos sinais de aviso enquanto ainda é possível fazer algo sobre eles.
Por tudo isso, entende-se que o tratamento e a recuperação do usuário dependente de substâncias psicoativas são favorecidos pela união de fatores físicos, emocionais e sociais, e sendo assim o tratamento deve contemplar todos esses aspectos. Para que isso ocorra, os profissionais que atuam com essa população necessitam buscar um constante aprimoramento de seus conhecimentos, refletindo e analisando sua atuação, verificando se esse cuidado integral está sendo ofertado, e promovendo a saúde e a qualidade de vida dessas pessoas.


Referências

BRASIL. Ministério da Saúde, Secretaria Executiva, Coordenação Nacional de DST e Aids. A Política do Ministério da Saúde para atenção integral a usuários de álcool e outras drogas. Brasília: Ministério da Saúde, 2003.

BÜCHELE F.; MARCATTI M.; RABELO D.R. Dependência química e prevenção à recaída. Texto & Contexto Enfermagem, Florianópolis, v. 13, n. 2, p.233-240, abril/jun., 2004.

CARVALHO, F. R. M.; BRUSAMARELLO, T.; GUIMARÃES, A. N.; PAES, M. R.; MAFTUM, M. A. Causas de recaída e de busca por tratamento referidas por dependentes químicos em uma unidade de reabilitação. Colombia Médica, Cali, v. 42, n. 2, supl. 1, p. 57-62, abr./jun. 2011.

GORSKI, T. How to developed a RP Plan. Disponível em:

LUSSI, I.A.O.; PEREIRA, M.A.O.; PEREIRA JÚNIOR, A. A proposta de Reabilitação Psicossocial de Saraceno: um modelo de auto-organização? Revista Latino Americana de Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 3, n. 14, p. 448-456, maio/jun., 2006.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS); ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE (OPAS). Relatório sobre a saúde no mundo 2001 - Saúde Mental: Nova Concepção, Nova Esperança. Genebra: Organização Mundial da Saúde, 2001.

PEDUZZI, M. Equipe multiprofissional de saúde: conceito e tipologia. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 35, n. 1, p. 103-109, fev. 2001.


SARACENO, B. Libertando identidades: da reabilitação psicossocial à cidadania possível. Belo Horizonte/Rio de Janeiro, Te Corá Editora/Instituto Franco Basaglia, 2001.

Ações de terapeutas ocupacionais na atenção à pessoa com problemas relacionados ao uso de álcool e outras drogas / Actions of occupational therapists in the care of people with problems related to use of alcohol and other drugs

(NOGUEIRA, A.M.; RUZZI-PEREIRA, A.)

Neste estudo exploratório descritivo buscou-se caracterizar as intervenções de terapeutas ocupacionais em espaços destinados ao atendimento de pessoas com problemas relacionados ao uso de álcool e outras drogas, identificando a forma e frequência dos atendimentos e mapeando as principais atividades desenvolvidas e os seus objetivos. Os sujeitos da pesquisa foram captados por meio da Técnica Bola de Neve, participando 11 terapeutas ocupacionais atuantes em sete estados da federação. A coleta de dados ocorreu de outubro a dezembro de 2011 por meio de questionário estruturado autoexplicativo e autoaplicável, elaborado pelas autoras, o qual indagou ao profissional entrevistado sobre sua formação (graduação, especializações/títulos, tempo de atuação na área da dependência química) e sobre sua atuação profissional (forma e frequência dos atendimentos, critérios que norteiam a escolha da forma e frequência dos atendimentos, atividades mais utilizadas nos atendimentos e principais objetivos a serem alcançados com a realização de tais atividades). Verificou-se que são realizados atendimentos individuais e grupais, com frequência de duas vezes ou mais por semana. As atividades mais desenvolvidas são as autoexpressivas; as atividades manuais; e aquelas relacionadas à educação em saúde, autocuidado e reorganização do cotidiano. Os objetivos mais relatados foram: resgatar valores pessoais e sociais; ressignificar as atividades cotidianas; ampliar a corresponsabilização da família no tratamento; expressar sentimentos e conflitos internos; e usufruir de momentos de lazer e relaxamento. Concluiu-se que existe um comportamento variado entre os profissionais com relação à sua prática, apontando-se as diferentes concepções filosóficas e metodológicas envolvidas nesse processo.



Texto Completo:

http://www.cadernosdeterapiaocupacional.ufscar.br/index.php/cadernos/article/view/638


sábado, 5 de abril de 2014

Acesso e Acolhimento com Qualidade - Um Desafio para o SUS

(Adriana Nogueira)







O acesso aos serviços e o acolhimento com dignidade e qualidade, nos serviços de saúde integrantes do Sistema Único de Saúde – SUS, é um direito constitucional de todos os cidadãos brasileiros.

Uma primeira reflexão é colocada a partir da questão das dimensões continentais do nosso país e uma ínfima proporção de profissionais de sáude generalistas, especializados em Saúde da Família e da Comunidade, principalmente médicos, comparando-se essa oferta de profissionais em outros países que também preconizam um modelo universal de atendimento à saúde da população.

Ainda é incipiente a necessária mudança de paradigma da própria população sobre as alternativas de atendimento à saúde, principalmente na esfera da Atenção Básica: nas ações de prevenção dos agravos à saúde e de promoção da saúde individual e coletiva.

Esse caminho, trilhado por todas as pessoas envolvidas na consolidação desse novo modelo de atenção à saúde, envolve a responsabilização de cada uma dessas pessoas, sejam gestores, profissionais ou usuários, na estruturação efetiva da Atenção Primária à Saúde, de maneira que realmente se ofereça à população o acolhimento e o atendimento integral de suas necessidades, garantindo a resolutividade dos problemas apresentados.

Esse debate traz ainda a reflexão sobre a indissociação da educação e do trabalho enquanto determinantes sociais de saúde, considerando que tais áreas do desempenho ocupacional do ser humano estão intimamente relacionadas ao conceito individual do processo saúde-doença-cuidado, e como tal reflete no modo como o indivíduo se posiciona diante dos recursos de atenção à saúde que estão à sua disposição.

O processo de educação em saúde, desenvolvido por todos os agentes de promoção da saúde, pode ser enriquecido por meio de algumas reflexões que Paulo Freire apresenta sobre a arte de educar.

Para FREIRE (2002), o ensino é fundamentado pela ética e pelo respeito à dignidade e à autonomia da pessoa a quem se pretende instruir sobre algo. Requer que o educador saiba pensar, no sentido de que duvide de suas próprias certezas, questione suas verdades. Quando ele assim age, existe uma maior facilidade em promover no educando o mesmo espírito. Ensinar requer ainda a aceitação do risco que é aventurar-se em busca do “novo”, rejeitando todas as formas de discriminação que separe as pessoas, pois “ao ser produzido, o conhecimento novo supera outro que foi novo antes e se fez velho e se ‘dispõe’ a ser ultrapassado por outro amanhã” (p.15). Nesse sentido, torna-se imperativo tanto conhecer o que o educando já sabe, bem como estar aberto ao conhecimento que está em construção, pois “não há docência sem discência”, ou seja, ensinar não é algo próprio do educador. Embora existam diferenças peculiares entre educador e educando, eles não são objetos um do outro, pois “quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender” (p.12).

Neste modo de se conceber o processo ensino-aprendizagem, prossegue FREIRE (2002), o educador, apesar de reconhecer o condicionamento a que os seres humanos estão sujeitos, mais ainda reconhece a possibilidade de interferir na realidade e modificá-la, ou seja, o futuro não é algo imutável. O ser humano, enquanto ser inacabado deve estar consciente deste “inacabamento”, pois a diferença entre o ser condicionado e o ser determinado reside exatamente nesta característica, o primeiro possui a consciência do inacabamento, e isto pode levá-lo a deixar de ver os obstáculos como algo pré-estabelecido, uma fatalidade, e reconhecer a transitoriedade dos mesmos. Para Freire, “é na inconclusão do ser, que se sabe como tal, que se funda a educação como processo permanente” (p.34).

Desta forma, a atuação dos agentes promotores da saúde inseridos nesse sistema universal de oferta dos serviços de saúde - o SUS, pautada sobre estes princípios apresentados por Paulo Freire, possui a capacidade de estabelecer, junto com o indivíduo ou grupo alvo de sua intervenção, um processo de conscientização de que existem outras possibilidades além da realidade apresentada, pois esta não “é” assim, apenas “está” assim.

Sendo assim, essa conscientização da população abrange o conhecimento de que todos os determinantes sociais de saúde, tais como, além da educação e do trabalho, a habitação, o saneamento básico, o acesso ao lazer ativo e passivo, dentre outros, influem diretamente em sua qualidade de vida e bem-estar, que é direito constitucional da população brasileira.



Referências:

NOVO modelo de Gestão no SUS. TVNBR, Programa Cenas do Brasil (11/08/2011), 58’50”. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=8G55MOIA-JQ. Acesso em 23/03/2014.

FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 23ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 2002.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Tire os olhos dos pontos negros de sua vida. Tranquilize-se e seja ... FELIZ!

(Autor Desconhecido)




"Certo dia, um professor chegou na sala de aula e disse aos alunos para se prepararem para uma prova-relâmpago.
Todos acertaram suas filas, aguardando assustados o teste que viria.
O professor foi entregando, então, a folha da prova com a parte do texto virada para baixo, como era de costume.
Depois que todos receberam, pediu que desvirassem a folha.
Para surpresa de todos, não havia uma só pergunta ou texto, apenas um ponto negro, no meio da folha.

O professor, analisando a expressão de surpresa que todos faziam, disse o seguinte:

- Agora, vocês vão escrever um texto sobre o que estão vendo.

Todos os alunos, confusos, começaram, então, a difícil e inexplicável tarefa.
Terminado o tempo, o mestre recolheu as folhas, colocou-se na frente da turma e começou a ler as redações em voz alta.
Todas, sem exceção, definiram o ponto negro, tentando dar explicações por sua presença no centro da folha.
Terminada a leitura, a sala em silêncio, o professor então começou a explicar:

- Esse teste não será para nota, apenas serve de lição para todos nós. Ninguém na sala falou sobre a folha em branco.
Todos centralizaram suas atenções no ponto negro. 
Assim acontece em nossas vidas. 
Temos uma folha em branco inteira para observar e aproveitar, mas sempre nos centralizamos nos pontos negros. 
A vida é um presente da natureza dado a cada um de nós, com extremo carinho e cuidado. 
Temos motivos para comemorar sempre! 
A natureza que se renova, os amigos que se fazem presentes, o emprego que nos dá o sustento, os milagres que diariamente presenciamos. No entanto, insistimos em olhar apenas para o ponto negro!
O problema de saúde que nos preocupa, a falta de dinheiro, o relacionamento difícil com um familiar, a decepção com um amigo.
Os pontos negros são mínimos em comparação com tudo aquilo que temos diariamente, mas são eles que povoam nossa mente".

Pense nisso!
Tire os olhos dos pontos negros de sua vida.
Tranquilize-se e seja ... FELIZ!"

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

45 lições

(Regina Brett, 57 anos, assina uma coluna no "The Plain Dealer" em Cleveland, Ohio)

Para celebrar o meu envelhecimento, certo dia escrevi as 45 lições que a vida me ensinou:

1. A vida não é justa, mas ainda é boa.

2. Quando estiver em dúvida, dê somente o próximo passo, pequeno .

3. A vida é muito curta para desperdiçá-la odiando alguém.

4. Seu trabalho não cuidará de você quando você ficar doente. Seus amigos e familiares cuidarão. Permaneça em contato.

5. Pague mensalmente seus cartões de crédito.

6. Você não tem que ganhar todas as vezes. Concorde em discordar.

7. Chore com alguém. Cura melhor do que chorar sozinho.

8. É bom ficar bravo com Deus e Ele pode suportar isso.

9. Economize para a aposentadoria começando com seu primeiro salário.
10. Quanto a chocolate, é inútil resistir.
11. Faça as pazes com seu passado, assim ele não atrapalha o presente.

12. É bom deixar suas crianças verem que você chora.

13. Não compare sua vida com a dos outros. Você não tem ideia do que é a jornada deles.

14. Se um relacionamento tiver que ser um segredo, você não deveria entrar nele.

15. Tudo pode mudar num piscar de olhos, mas não se preocupe; Deus nunca pisca.

16. Respire fundo. Isso acalma a mente.

17. Livre-se de qualquer coisa que não seja útil, bonito ou alegre.

18. Qualquer coisa que não o matar o tornará realmente mais forte.

19. Nunca é muito tarde para ter uma infância feliz. Mas a segunda vez é por sua conta e ninguém mais.

20. Quando se trata do que você ama na vida, não aceite um não como resposta.

21. Acenda as velas, use os lençóis bonitos, use roupa chic.  Não guarde isto para uma ocasião especial. Hoje é especial.

22. Prepare-se mais do que o necessário, depois siga com o fluxo.

23. Seja excêntrico agora. Não espere pela velhice para vestir  roxo.

24. O órgão sexual mais importante é o cérebro.

25. Ninguém mais é responsável pela sua felicidade, somente você..

26. Enquadre todos os assim chamados "desastres" com estas palavras 'Em cinco anos, isto importará?'

27. Sempre escolha a vida.

28. Perdoe tudo de todo mundo.

29. O que outras pessoas pensam de você não é da sua conta.

30. O tempo cura quase tudo. Dê tempo ao tempo.

31. Não importa quão boa ou ruim é uma situação, ela mudará.

32. Não se leve muito a sério. Ninguém faz isso.

33. Acredite em milagres.

34. Deus ama você porque ele é Deus, não por causa de qualquer coisa que você fez ou não fez.

35. Não faça auditoria na vida. Destaque-se e aproveite-a ao máximo agora.

36. Envelhecer ganha da alternativa -- morrer jovem.

37. Suas crianças têm apenas uma infância.

38. Tudo que verdadeiramente importa no final é que você amou.

39. Saia de casa todos os dias. Os milagres estão esperando em todos os lugares.

40. Se todos nós colocássemos nossos problemas em uma pilha e víssemos todos os outros como eles são, nós pegaríamos  nossos mesmos problemas de volta.

41. A inveja é uma perda de tempo. Você já tem tudo o que precisa.

42. O melhor ainda está por vir.

43. Não importa como você se sente, levante-se, vista-se bem e apareça.

44. Produza!

45. A vida não está amarrada com um laço, mas ainda é um presente.

sábado, 11 de janeiro de 2014

O sonho

[Clarice Lispector]




"Sonhe com aquilo que você quer ser,

porque você possui apenas uma vida

e nela só se tem uma chance

de fazer aquilo que quer.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.

Dificuldades para fazê-la forte.

Tristeza para fazê-la humana.

E esperança suficiente para fazê-la feliz.

As pessoas mais felizes não tem as melhores coisas.

Elas sabem fazer o melhor das oportunidades

que aparecem em seus caminhos.

A felicidade aparece para aqueles que choram.

Para aqueles que se machucam

Para aqueles que buscam e tentam sempre.

E para aqueles que reconhecem

a importância das pessoas que passaram por suas vidas."

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

O papa e as drogas

[Ronaldo Laranjeira]



O mundo vem se surpreendendo com o papa Francisco, suas demonstrações de humildade e também, talvez principalmente, com sua firme disposição em promover reformas na Igreja, punindo severamente práticas de pedofilia e desvios de dinheiro do banco do Vaticano.

Entre os temas controversos e considerados tabus, Francisco já disse que os gays não deveriam ser julgados por sua opção.

Sobre as drogas, o papa deixou clara sua crítica aos que discutem a liberalização dos entorpecentes, afirmando que não é por este caminho, como se discute em países da América Latina, que será possível diminuir a difusão da dependência.

Quando visitou o Brasil, Francisco visitou um centro de recuperação e reconheceu o "santuário do sofrimento humano" que ocorre nesses locais.

A mensagem do papa ponderou, entretanto, que os dependentes são os principais protagonistas de sua recuperação, e que, apesar de a Igreja e muitas pessoas estarem do lado dos usuários de drogas, ninguém pode fazer a "subida" no lugar deles.

É consenso, tanto do ponto de vista da Igreja como dos líderes políticos da América Latina, e mesmo de integrantes da OEA, que a criminalização do uso de drogas, com severa punição dos usuários, é um modelo que fracassou na região.

Vejo, no entanto, com muita preocupação as tentativas de se liberar o comércio de crack, cocaína, maconha, ecstasy e outros entorpecentes. Tal medida, sob o argumento de neutralizar o tráfico, combater os traficantes e a influência que exercem sobre os dependentes, abre um caminho sem volta para que mais pessoas tornem-se reféns das drogas.

No Estado de São Paulo, o programa Recomeço, de combate à dependência química, em especial à epidemia do crack que reina nas principais capitais e regiões metropolitanas brasileiras, segue diretriz bem similar à nova visão mundial sobre o enfrentamento desta problemática, tratando o tema menos como uma questão de polícia e mais de saúde pública e resgate da cidadania.

O governo paulista vem promovendo uma verdadeira revolução na assistência aos dependentes de crack, com expressiva ampliação dos leitos de enfermaria para internação dos casos mais graves, articulação e integração com outros serviços de saúde e assistência social de perfis complementares, como os Caps Ad (Centros de Atenção Psicossocial - Álcool e Drogas), comunidades terapêuticas e moradias assistidas.

Na capital paulista, o Plantão Judiciário e a Unidade Social implantados no Cratod (Centro de Referência em Álcool Tabaco e outras Drogas) vem proporcionando agilidade a processos de encaminhamento dos dependentes tanto para assistência ambulatorial quanto para internações voluntárias, involuntárias e compulsórias, todas previstas em lei. E a oferta de leitos de enfermaria para tratamento dos dependentes no Estado mais do que duplicou desde 2011.

Já o Cartão Recomeço soma esforços ao financiar uma fase importante do tratamento de alguns pacientes em comunidades terapêuticas, período em que, após a desintoxicação, é necessário um tempo para que o dependente reaprenda como é o mundo sem a droga.

A estruturação e a expansão da rede Recomeço são essenciais para oferecer todas as alternativas terapêuticas possíveis visando à recuperação e reinserção social dos dependentes químicos. Mas o esforço próprio de cada paciente é que determinará se o final da caminhada será ou não bem sucedida.

RONALDO LARANJEIRA, 58, psiquiatra e professor titular de psiquiatria da Unifesp, é coordenador do Programa Recomeço, do governo do Estado de São Paulo

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Homenagem a todos os Terapeutas Ocupacionais que se transformaram em "Pássaros Migrantes"

(Adriana Nogueira)




Em um pássaro migrante os meus caminhos me transformaram...
Um pássaro migrante constrói seu ninho em terra estrangeira, porque ele aprendeu fazer ninhos, e sabe fazê-los, e insiste em fazê-los.
Um pássaro migrante é um peregrino que muda não só de lugar, muda o coração, a compreensão, amplia a visão e engrandece a alma.
Está sempre em transição, mutação, chegando e indo.
Nunca parte antes de construir o ninho. Mas vai e volta.
O mundo de um pássaro migrante nunca é o mesmo, é sempre invadido pelo inesperado. Repentinamente o que estava construído não pode mais ser usufruído, o ninho é fechado.
Montanhas de neve inexplicáveis surgem para esconder o ninho construído. Parece impossível prosseguir, mas um pássaro migrante prossegue.
Para os pássaros migrantes tudo que tem que ser feito, vai sendo feito. Ignoram as arapucas, ameaças, perigos.
Muitos querem prendê-los, mas não conseguem.
Eles voam alto.
Continuam indo... Voando... Chegando... Partindo... Cantando...
E sabem que não existe um único lugar na Terra chamado “minha casa”.

sábado, 2 de março de 2013

Dica de Atividade - Máscara de Gesso


Materiais


·         Gaze gessada cortada em tiras e/ou quadrados
·         Tesoura
·         Creme hidratante
·         Água



Etapas Sequenciais


·         Aplicar o creme hidratante sobre o rosto que servirá como molde (pessoa ou manequim)

·         Aplicar sobre o molde  a gaze gessada ( molhando e escorrendo para tirar o excesso de água).

·         Se utilizar o rosto de uma pessoa como molde, proteja os olhos com algodão umedecido.

·         Aplicar uniformemente três camadas de gaze.

·         O gesso vai secando com alguma rapidez, à medida que isso acontece moldar o gesso com os dedos, alisando e, se necessário, umedecendo os dedos.

·         Deixe a máscara secar sobre o molde por aproximadamente 15 minutos



·         Retire-a com cuidado e,  antes que endureça por completo,  apare as bordas e faça os furos laterais, pois se fizer isto depois que endurecer, a máscara pode rachar.

·         Após a máscara estar completamente seca, proceder à decoração da peça conforme desejado (pintura, colagem de lantejoulas, penas, fitas, etc).