sexta-feira, 22 de abril de 2011

Fundamentos da Terapia Ocupacional: Modelos do Processo

(Adrianna Nogueira)


No texto intitulado “Concepção ‘Ingênua’ e Concepção Crítica da Terapia Ocupacional”, Francisco (2001) nos apresenta algumas reflexões acerca dos modelos do processo da Terapia Ocupacional.
A autora inicia suas considerações mostrando que existem diferentes formas de processos, cada qual elaborado segundo as características das técnicas que os embasam, e da forma como o profissional que as aplicam. Este tipo de análise remeteria a um distanciamento entre o processo de terapia ocupacional e o contexto social onde ele acontece.
Desta forma, suas reflexões são apresentadas segundo as relações que o processo desenvolve com a visão de homem e de sociedade. São apresentados então três diferentes modelos de processo: um segundo a concepção humanista, um segundo a concepção positivista, e um segundo a concepção dialética materialista-histórica, os quais, segundo a autora, assumem posições opostas e inconciliáveis.
No modelo do processo humanista inexistem regras pré-estabelecidas. O terapeuta ocupacional assume o papel de facilitador perante o usuário do serviço, encorajando-o a ser protagonista na relação que estabelece com sua saúde. A relação cliente-terapeuta é muito importante neste modelo e a observação é o método por excelência que o terapeuta utiliza para direcionar o processo terapêutico, o qual, via de regra, acontece em um grupo de atividades. No grupo, o fazer individual acontece sob a ótica das relações interpessoais.
Este modelo favorece o aprendizado de diferentes formas de relacionamento, de soluções para os problemas cotidianos, e de uma postura criativa frente a estes. O aprendizado depende do auto-conhecimento desenvolvido pelo cliente na relação terapêutica e, portanto, o próprio terapeuta ocupacional, como facilitador deste processo, se configura um instrumento terapêutico.
No modelo do processo de terapia ocupacional segundo a ótica positivista as relações podem ser definidas como “procedimentais”. Regras são pré-estabelecidas para se alcançar uma meta e o dever do usuário é seguir o plano de tratamento apresentado pelo terapeuta ocupacional, o qual, usualmente, recebe o usuário mediante um encaminhamento médico explicitando os objetivos que se espera ser alcançados com o tratamento. Inicia-se então uma extensa coleta de dados através de entrevistas estruturadas e testes, que por sua natureza objetiva, fornecerão as informações que o profissional deseja obter para direcionar o tratamento da patologia apresentada.
Estes dados coletados serão comparados em próximas reavaliações, para que se verifique a eficácia da intervenção terapêutica, a qual acontece de forma individualizada e a atividade prescrita assume papel central. Desta forma, o terapeuta ocupacional se assume como mediador da relação do usuário com a atividade que deve ser desenvolvida.
No modelo do processo de terapia ocupacional materialista histórico enfatiza-se o que esta concepção preconiza, ou seja, a relação dialética do homem com seu trabalho e com o ambiente.
Nesta relação, ao transformar o meio através do trabalho, o homem se transforma, e, em uma sociedade dividida em classes, uma das características da saúde é manter este homem socialmente produtivo. Sendo assim, “é a classe economicamente dominante que determina cultura, educação, ciência e saúde” (p.65), em um processo social que determina os conceitos de saúde e doença.
A prática de terapia ocupacional enquanto parte da organização social, assume um papel que pode ser de mantenedor, reformista ou transformador. Há uma solidariedade com o cliente e sua classe social e a ruptura da imparcialidade, passando a obter uma postura cientificista.
Neste modelo prioriza-se o tratamento grupal, pois o agrupamento de indivíduos por classe de origem, facilita o trabalho de conscientização e aprendizagem do tratar de “questões coletivas”. A saúde é uma dessas questões, e sua aquisição ou manutenção ultrapassa o indivíduo, sendo, dentro da sociedade capitalista, uma questão de classe social.
As ações do terapeuta neste processo são democráticas, cada indivíduo do grupo é responsável “pelo fazer o processo acontecer” (p.71). As ações do grupo mostram as necessidades deste, que levam à elaboração do projeto do grupo, à execução deste projeto e à reflexão destas ações, em uma estrutura dinâmica, sem critérios pré-estabelecifos, “na qual cada grupo imprime sua maneira de organizar-se e construir seu projeto” (p.71).
A compreensão da terapia ocupacional que se estabelece pela concepção materialista-histórica mostra que esta resulta em uma conscientização do grupo, que o leva a compreender que é possível a transformação social através de uma nova concepção de práticas de saúde, estabelecendo novas relações entre o homem e o seu meio.
Diante do exposto pela autora, os três modelos apresentados podem ser realmente considerados opostos. Entretanto, cada um deles, com suas respectivas especificidades, têm seu lugar na prática terapêutica ocupacional.
Assim como cada usuário do serviço de Terapia Ocupacional é um ser único em suas relações consigo e com o contexto no qual se insere, também o terapeuta ocupacional apresenta suas características próprias, tanto pessoais como profissionais.
Sendo assim, não se pode simplesmente apontar um modelo como sendo melhor que outro, pois cada situação específica exigirá do profissional um posicionamento crítico sobre sua atuação e a melhor maneira de estruturá-la. Desta forma é que demonstrará sua capacidade de atender cada ser humano que se apresente diante dele necessitando de sua intervenção.


Referência: FRANCISCO, B.R. Terapia Ocupacional. 2ª ed. Campinas, SP: Papirus, 2001.

domingo, 17 de abril de 2011

Curso de Capacitação na "Lista de Identificação de Papéis Ocupacionais"

O próximo curso será em Uberaba, no Triângulo Mineiro. As inscrições devem ser feitas diretamente com os organizadores. Seguem abaixo os detalhes:
  • Público Alvo: Terapeutas Ocupacionais e Acadêmicos de Terapia Ocupacional
  • Data: Sábado - 21/05/2011
  • Horário: 13:30-17:30h
  • Investimento: R$ 170,00 à vista (inclui coffee break, apostila, material do curso e certificado)
  • Local: ADEFU - Rua Francisco Moreira de Araújo, 70 conj. Uberaba I - Uberaba, MG
  • Outras informações e inscrições: omnicursos@gmail.com - Tel.: (34) 9196-9881 com Paulo
Ementa:
A falta de instrumentos de avaliação padronizados e específicos para a  Terapia Ocupacional no Brasil e em outros países de língua portuguesa tem causado a dificuldade de nossa inserção nas práticas de Terapia Ocupacional Baseada em Evidências. Isto significa falta de dados objetivos para comprovar seus resultados, falta de indicadores de desempenho da profissão e, portanto, dificuldade em justificar a presença dos terapeutas ocupacionais junto às instituições de uma forma geral e em publicar seus avanços em periódicos estrangeiros de destaque mundial. Este tema visa apresentar um instrumento do Modelo da Ocupação Humana (Gary Kielhofner, 2008), originalmente denominado Role Checklist, que foi validado no Brasil por Júnia J. R. Cordeiro. O instrumento se propõe a delinear os papéis ocupacionais no continuum da vida do sujeito, bem como a importância atribuída a cada papel. A partir daí, o terapeuta ocupacional poderá especificar as tarefas que foram afetadas em cada papel e planejar sua intervenção para produzir resultados ocupacionais específicos e verificar a sua efetividade. O objetivo é divulgar o uso do instrumento e a ampliação de pesquisas em Terapia Ocupacional por meio da utilização do mesmo. O trabalho que subsidia este tema está publicado em forma de tese (UNIFESP), em forma de artigo no Am. J. Occup. Therapy, v.61, n. 1. Jan/Fev.2007 e como contribuição à 4ª. ed. do livro Modelo da Ocupação Humana, 2008.

Júnia J. Rjeille Cordeiro - terapeuta ocupacional - CREFITO-3/148-TO
[juniacordeiro@terra.com.br]