No texto intitulado “Trabalho corporal, música, teatro e dança em Terapia Ocupacional: clínica e formação”, Flávia Liberman reflete sobre estes elementos que vêm se constituindo como recursos terapêuticos ocupacionais que buscam analisar e atribuir sentido à prática destes profissionais, enfatizando os processos de subjetivação, principalmente na reabilitação psicossocial.
Nas abordagens que enfatizam o aspecto funcional do indivíduo a subjetividade tem sido deixada em segundo plano, cuja característica é fornecer informações sobre “as necessidades, desejos e possibilidades do sujeito”. A terapia ocupacional, ao enfatizar este aspecto subjetivo do ser humano, direciona seu olhar para o sujeito e sua individualidade. Neste processo, a arte é um recurso que possibilita a formação do vínculo terapeuta-cliente, permitindo que se manifeste “conteúdos emocionais, sentimentos e desejos e a efetivação de processos de expressão, conhecimento de si, do outro e do mundo”.
A dança enquanto método de expressão do corpo, a música e o teatro vêm sendo utilizados na Terapia Ocupacional para compreender o indivíduo a partir das potencialidades do corpo. Saraceno(1999), citada pela autora, aponta que se faz necessário não apenas “transformar” o cliente em um pintor, bailarino ou escultor, mas promover através destas atividades o sentimento de pertencimento que resulta em mudanças no comportamento social deste com relação à família e rede social, o que se configura na atualidade como finalidade da atenção à saúde.
O texto ressalta ainda a importância da reflexão sobre a aplicação destes elementos na formação acadêmica dos terapeutas ocupacionais, sensibilizando o próprio aluno com vivências que o faça “resgatar sua história, recuperar e refletir sobre os seus significados”.
Ao relatar alguns exemplos de atuação por esta abordagem junto a seus clientes, a autora considera que é um desafio profissional esta necessidade, principalmente na área da reabilitação física, na qual a realização de movimentos corporais se foca “no prazer e no gosto pela experimentação”.
Finalizando suas reflexões, ela nos apresenta a aplicação desta abordagem na Reabilitação Psicossocial, colocando a importância dos espaços sociais como, por exemplo, os cinemas e teatros, neste processo. Neste sentido, a arte concede ao sujeito elementos para a “construção, articulação e transformação do cotidiano”. A autora sugere ainda que a abordagem corporal, enquanto recurso terapêutico seja alvo dos questionamentos dos profissionais da Terapia Ocupacional, no sentido de que as relações teórico-práticas contribuam para a solidificação dos resultados positivos de tais ações terapêuticas.
Referência:
LIBERMAN, F. Trabalho corporal, música, teatro e dança em Terapia Ocupacional: clínica e formação. Cadernos – Terapia ocupacional: Produção de conhecimento e responsabilidade social. Centro Universitário São Camilo. São Paulo, v.8, n.3, p.39-43, jul-set 2002.